“Respeitável público!” Seria um jargão interessante ou ao
menos pertinente para se iniciar uma crítica, um breve ensaio ou quaisquer
palavras soltas que tentem refletir a proposição dessa banda. A começar pela
designação que rege toda a discussão: bandas independentes. Este seria um
assunto que não conseguiríamos esgotar tão somente pela análise das bandas blog. Partindo de um lugar comum de que as bandas
independentes seriam alheias a um contrato com uma grande gravadora, ou aquelas
que tem total liberdade sobre seu produto musical podemos criar diversos
questionamentos. Não é mais necessário uma assinatura ou a rubrica em um
contrato de incontáveis folhas para ter seu trabalho associado a uma marca ou
ideia. Hoje temos mesmo os que podem se autointitular de ‘produtores
independentes’ regendo o trabalho autoral para determinados nichos, vozes, e
claro, relações que por muitas vezes podem minar todo esse conceito de
liberdade criativa; o que torna essa palavra ‘independente’ tão contraditória e
complexa. Mas isso é interessante somente para pensarmos na pluralidade de caminhos
que ela pode nos apontar.
Aquém
aos meandros que ditarão o que é independente ou não, apresentamos: Fleeting
Circus!!! As exclamações não fazem parte do substantivo próprio do nome, mas
considerei enfático colocá-las, afinal resolvi escrever sobre eles pela
relevância que tem despertado no cenário musical até então. Uma banda formada no Rio de Janeiro que teve seu batismo realizado a pouco mais de 2 anos, mas
suas ideias e composições parecem atravessar uma década. Ainda que conhecido
por mim bem posteriormente, lançaram o seu primeiro EP em 2011 – ano de criação
da Fleeting Circus – intitulado “Dream World of Magic”, com uma pretensão já
bem maior do que uma banda que lança um primeiro trabalho para divulgação entre
amigos na faculdade e aí, quem sabe pinta algo maior. As composições são todas
em inglês, partem de um discurso de circulação desse produto musical pr’além do
mercado brasileiro e sua hegemonia excludente, sendo assim “uma proposta global
do som”. Em suas letras falam bastante
sobre introspecção, pensamentos que surgem como um turbilhão; essas ideias
latentes que nos fazem acreditar que podemos ir além da limitação que
envolve essa palavra, estas podem também ser algo tangível; como a música.
Canções como “Hurricane” ilustram essa grande movimentação de ideias
justificadas em sons.
Performance da Unicirco na Vila Cruzeiro com a música 'Hurricane'.
Fleeting Circus!!! Novamente as exclamações e, entendam, é
importante voltarmos ao nome, pois em 2012 fizeram parte de um projeto inovador
tanto para a banda quanto para a vertente artística em que se inseriram. Bem
vindos, senhoras e senhores, ao CIRCO! Agora sim parecem justificar seu
batismo, não?! Através de um convite, o grupo concebeu e ensaiou a trilha
sonora para o espetáculo “Unicirco Rock Show”. Para além dos estereótipos das
músicas de circo que nos vem a cabeça de imediato, as apresentações ganharam
uma nova roupagem com guitarras distorcidas e linhas de baixo que faziam o
peito do espectador reverberar com os graves. A ideia pode parecer confusa,
misturando rock e circo, mas pensem no número de malabaristas, equilibristas,
toda a tensão gerada por seus corpos, a movimentação e a expectativa gerando
todo aquele furor ao público; tudo isso ambientado por uma banda que só acresce
mais exclamações as apresentações:
Imagem do Espetáculo 'Unicirco Rock Show'
Vídeo promocional do espetáculo "Unicirco Rock Show"
Todo o EP permeado de referências ao espetáculo, desde a sua
capa até as suas músicas tem influências que flertam entre si, mas sem se
perder da proposta original e de uma identidade própria do som. Trazem
elementos do Rock Alternativo, New Prog e também do Post Rock. O vocal bem
harmônico com a música, berrado na medida certa me remete muito as bandas
grunges surgidas no final da década de 80 e também algumas outras surgidas a
partir desse movimento, tais como Foo Fighters. Não me parece tão distante
comparar o Taynã, vocalista com a presença e vocais de Dave Grohl, através das
músicas carregadas e uma voz bem marcante. As melodias e arranjos me fizeram
viajar e digo isso no sentido mais amplo da palavra com uma referência que me
era bem clara: Jeff Buckley. Constatei pesquisando e afirmando o artista como
uma das referências da banda. Um som atemporal, trabalhado em muito com seus
acordes dissonantes e com uma proposta pra além do comercial. Fleeting Circus
conseguiu me despertar esse ímpeto dentro do seu trabalho. Acompanhando esse
ritmo a cozinha da banda também me despertou um interesse particular, o baixo e
a bateria bem alinhados mostram a energia e a criatividade da banda,
principalmente em um dos seus singles “Fake Station” onde exploram bastante a
linha instrumental. Essa música conseguiu me transportar para os primeiros
discos do Muse, tal como ‘Origin of Symmetry’. Falando em single, essa música foi inclusive
uma das trilhas da novela “Guerra dos Sexos”. Interessante pensar nessa
ferramenta como um processo de legitimação para o artista. Ter sua música
envolvida nesses grandes meios midiáticos, independente do seu contexto sempre
agrega valor a obra, independente também se o público atingido seja o
correspondente ao segmento musical.
Capa do EP - "Dream World of Magic"
A banda/performer/circense se encontra em estúdio gravando
seu novo disco de inéditas, o que não anula nem esgota ainda todo trabalho já produzido,
que por vezes se encontra em looping tocando nos aparatos de som aqui de casa.
Mérito para os integrantes que souberam aliar diferentes vertentes artísticas
dentro da sua proposta, mantendo-se atual aos novos meios de comunicação e
difusão do trabalho, também trazendo uma música original e pertinente dentre
uma grande rede musical saturada pelos inúmeros trabalhos da ordem do mesmismo.
Vídeoclipe oficial da música 'Fake Station'
Para conhecer mais sobre o trabalho da Fleeting Circus:
http://www.fleetingcircus.com/
http://www.fleetingcircus.com/
*Todas as imagens foram retiradas da rede social da banda.
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